Por Cristovam Buarque
Na semana passada, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento realizou um encontro no Cairo, capital do Egito, para discutir a importância das Políticas de Transferência de Renda – iniciadas em 1995, em Brasília, com a Bolsa-Escola e transformadas em Bolsa Família em 2004 -, na redução da pobreza no mundo. O encontro contou com a participação de representares do PNUD de 56 países. Durante o encontro, a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, atual administradora do PNUD, Helen Clark, disse uma frase surpreendente: "A África é um continente rico". Surpreendente mas correta, ao afirmar que a riqueza de um povo está na sua população.
Para a Sra. Clark, o desafio de abolir a pobreza está na mobilização da população para produzir os bens de que os pobres necessitam. O caminho para essa mobilização está na transferência de renda para que os pobres sejam mobilizados a produzir aquilo de que precisam, criando a partir daí o excedente que caracteriza a riqueza no sentido tradicional.
Essa lógica vem sendo chamada de "pós-keynesianismo produtivo", cujo instrumento mais conhecido é a Bolsa-Escola: a mãe recebe para participar da produção da educação de seus filhos.
Quando a pobreza é tratada como falta de renda, o número de pessoas é visto como redutor da renda per capita, e não como indutor de produção. Com sua frase, a Sra. Clark apresentou uma nova visão. Primeiro porque, se estiver produzindo, o pobre vira riqueza; segundo, porque afirmou que pobreza não é uma questão de renda, mas sim de oferta de bens e serviços.
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