terça-feira, 23 de junho de 2009

SÉRIE ARTIGOS

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Brizola, o pré-sal e a educação
Juliana Brizola*

Completaram-se cinco anos da morte de Leonel Brizola. Lembro de quando cheguei do Rio de Janeiro trazendo o corpo de meu avô para ser velado no RS. Na saída do aeroporto, o carro que deveria nos levar atrasou, enquanto o que transportava o féretro partia. Ficamos desolados. Aquilo pareceu um rapto. Alguns cogitaram tratar-se mesmo de um ato oportunista, um rapto político.

Hoje, passados cinco anos, entendo que o “rapto” aconteceu para que pudéssemos assistir à imensa fila que dava voltas no Palácio e na Praça da Matriz, numa grande consternação. Na saída para São Borja, os irmãos Fagundes entoaram Querência Amada e, pela estrada, uma chuva caía, como se o Estado se despedisse. Com essa lembrança, a cada mês de junho reforço meu respeito por essa herança que meu avô deixou: o amor ao povo e à pátria. Mas, como escreveu o jornalista Carlos Koleckza, o PDT perdeu seu mensageiro, mas não a mensagem.

Essa questão tem ocupado meus pensamentos: qual seria a mensagem hoje, quando despontamos como liderança na América Latina? Quando a máxima “não trabalhe por dinheiro, deixe que o dinheiro trabalhe por você” entra em colapso? Aliás, no auge do deslumbramento com fórmulas neoliberais, meu avô já dizia que o cassino financeiro teria vida curta. Hoje, vemos a maior participação do Estado e a consciência de que os gastos públicos devem ser direcionados à produção real.

Nesse contexto de investimentos produtivos, penso no pré-sal com a convicção de que ele só se legitimará se os lucros vierem em benefício da sociedade. Para nós, pedetistas, os dólares do petróleo só se justificariam, por exemplo, se fossem aplicados na educação. Por que esses recursos não podem ser aplicados na escola integral, afastando crianças da rua e das drogas, como sugere essa grandiosa campanha contra o crack?

Outro exemplo é o do Equador, que defende a permanência das reservas de petróleo do Parque Yasuní, no coração da Amazônia. Aquele país negocia nesta semana, na Inglaterra e na Alemanha, seus bônus de carbono. A proposta equatoriana é transformar conceitos antigos de economia e valor para preparar-se contra o aquecimento global com criatividade.

Enfim, se, por um lado, daremos carta branca ao presidente eleito em 2010 para gerir os trilhões de dólares do pré-sal, por outro, acreditamos que atitudes arrojadas em prol do bem social mudariam o rumo de milhões de pessoas. Essas são reflexões que encantariam nosso inesquecível mensageiro neste junho frio e chuvoso.
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*Vereadora de Porto Alegre (PDT) e neta de Leonel Brizola
15:00h

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