segunda-feira, 23 de novembro de 2009

PASSADO O FERIADO...VEM A REALIDADE. PELO MENOS PARA PORFÍRIO E EU.


Feriado como cortina de fumaça - A discriminação racial no Brasil existe, com suas características próprias. Portanto, deveria ser combatida com tratamentos próprios. Nesse aspecto, num momento de rara lucidez, o governador Sérgio Cabral pôs o dedo na ferida na atitude das empresas. É evidente a discriminação, sobretudo nas áreas que lidam com o público. Mesmo com a escolaridade necessária, é difícil encontrar um garçom negro. O mesmo acontece entre vendedores das grandes lojas. Por que essa exclusão racial não é enfrentada? O problema é que a questão racial no Brasil entrou em discussão no mesmo momento em que criar uma ONG passou a ser um bom negócio. A solidariedade profissionalizou-se e o enfrentamento dos cancros sociais deixou de ser um objetivo honesto para virar um pretexto maroto. Se não existir um certo tipo de tragédia não haverá como levantar recursos, públicos e privados, para manter os que se auto-definiram como operadores das soluções. Portanto, o pior que pode acontecer a pessoas financiadas como terceiros interessados para enfrentar determinado problema é o seu desaparecimento. Nesse sentido, uma certa indústria de interesses dissimulados tende a viver de cortinas de fumaça. Qual o ganho para os negros com a paralisação da atividade econômica para lembrar a morte do seu maior ícone? Como acontece todos os anos, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, o feriado de Zumbi num dia ensolarado é apenas um convite ao banho de mar. Isso eu vi mais uma vez nesse último dia 20: enquanto as praias estavam apinhadas de brancos, mestiços, mulatos e negros, os eventos programados junto ao monumento de Zumbi não reuniram mais de 300 pessoas, a quase totalidade trazidas em ônibus da Viação Braso Lisboa fretados por alguma ONG. Nem mesmo a performance do governador Sérgio Cabral, que encenou alguns passos de capoeira, teve público condizente. Isso em contraste com as passeatas do orgulho gay, que empolgam as massas existencialmente aflitas, em fieiras de milhões de almas, felizmente num domingo, que já é dia de descanso pelo direito natural. (Ou será que os grupos GLS vão querer também ter o seu feriadinho?). Quando me opus ao feriado de Zumbi e, depois, ao de São Jorge, lembrei que essa era forma mais inadequada de salientar a pujança do negro na formação da nossa cultura. Seria mais inteligente a realização de eventos nas escolas e centros sociais, sem prejuízo da atividade econômica, que é a garantia da produção dos meios à preservação do emprego de negros e brancos. Mas o poder da farsa fala mais alto nos dias de hoje. No caso de nosso comércio, quem se beneficia dessa "homenagem" são as lojas dos shoppings, cada dia mais avassaladoras em relação às de porta de rua. Elas abrem de 3 da tarde às 9 da noite e abiscoitam a freguesia em ambiente de oligopólios. É esse tipo de estupidez que me torna cada vez mais cético em relação ao futuro de um país em que, ao invés de pleitear melhor remuneração ao seu labor, o povo é induzido a acreditar em que o bom da vida é trabalhar cada vez menos.

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