Por Eucimar Oliveira
Do blog youpode
Agora é à vera? Então que seja. E para todos. Em Niterói, a polícia (Delegacia do Meio-Ambiente) já abriu investigação para apurar as responsabilidades (causas naturais ou negligência das autoridades) sobre a tragédia (talvez com 200 mortos), no Morro do Bumba, uma área de lixão no passado. Pode sobrar para muita gente, civil e criminalmente, e no bolo inclui-se o prefeito Jorge Roberto Silveira.
E no Rio? Por que a autoridade policial ainda não se moveu como se moveram os barrancos dos morros que mataram dezenas? Afinal, desde o primeiro dia, o governador chama de irresponsáveis quem mora nestas áreas e o prefeito apelou, apelou e de tanto apelar e não ser atendido, editou um decreto para a remoção compulsória dos moradores de área de risco. Se preciso, usará a força.
Só que ao falar desde sempre em áreas de risco, Paes está também falando para toda a sociedade que a existência de tais locais já eram do conhecimento da prefeitura pelos perigos oferecidos aos seus habitantes. Paes, como Jorge Roberto, conhecia os problemas e cruzou os braços. Os dois foram omissos e, portanto, carregam, no mínimo a culpa da desídia administrativa. Paes também deve ser ouvido por um delegado, ter sua administração investigada quanto à ocupação do solo urbano e ser levado aos tribunais, se assim for necessário. Que os dois provem o contrário no inquérito.
É imprescindível saber direitinho se verbas previstas para obras no Morro dos Prazeres, por exemplo, foram retidas. E para outras comunidades do festejado e premiado Favela-Bairro. O que fala a respeito o ex-secretário de habitação e deputado federal pelo PT Jorge Bittar? Cesar Maia, o ex-prefeito, também tem algum esclarecimento a oferecer neste sentido?
A tragédia parte corações e embota mentes. A chamada condição psicológica para a remoção pura e simples está dada pela dimensão da tragédia e pelo desejo midiático manifestado em todos os jornais, todos os dias.
Mas onde estão as condições sociais, logísticas, urbanísticas, humanitárias e até econômicas para a transferência dessa gente? Onde irá morar? A muitos quilômetros do trabalho? Vai comprometer a sua já mínima renda em mais gastos com transportes? Terá escolas, creches, um hospitalzinho qualquer que seja?
A classe média e as elites sempre nutriram o sonho de remover as chagas das favelas de perto de seus belos apartamentos e mansões,especialmente na Zona Sul. Mas madames donas de boutiques de luxo, empresários de restaurantes sofisticados (alguns até se financiam com dinheiro de fundos de previdência de servidores) e lojistas de shopping já imaginaram como iriam operar, por exemplo, com o fim da Rocinha? Certamente, não.
Perderiam toda mão de obra eficiente, barata, que chega na hora por morar perto e que lhes garante o lucro atrás de balcões, como manobristas, cozinheiros, garçons e faxineiros (fora outras atividades).
Nenhum plano de retirada de pessoas destas áreas pode ser considerado sério, socialmente justo e sem um viés fascista se não estiver acompanhado de um projeto urbano consistente, eficiente e digno de reassentamento das famílias e que não se limite à segregação. Fora disso, é preconceito, apenas, é querer varrer não a poeira, mas os cadáveres para debaixo do tapete.
A ação ou omissão de Jorge Roberto precisa ser esmiuçada, como a de Paes e talvez a de César e antecessores. De fora, por enquanto, só Cabral e outros governadores. Todos têm a seu lado a legislação que responsabiliza somente a prefeitura pela ocupação do solo. E Cabral conta com mais: ao chamar os moradores das áreas de risco e irresponsáveis e suicidas, ele se exime de qualquer culpa. Suicídio é um crime por quem o cometeu e morto não pode ser condenado e nem, depois de bater as botas, processar quem dele fala mal.
E Angra não está de fora desta situação. Além de diversos outros municípios. O que contestamos, é a crucificação de Jorge Roberto, com a complacência para os fatos idênticos que por aqui ocorreram.
pdtangra12@hotmail.com
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