MAIS QUE PREVISÍVEL, ERA CERTO ACONTECER.
A tragédia que se abateu sobre a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com maior efeito na cidade de Niterói, não pode ser creditada apenas às alterações climáticas que vivemos. Ela desmascara a face da irresponsabilidade gestora de nossos políticos em cargos executivos que, via de regra, ignoram as indicações e pareceres técnicos de arquitetos e urbanistas, engenheiros, cientistas e outros especialistas a serviço do estado ou em favor da sociedade, priorizando ações de investimento eleitoral, como essas de perpetuação de avanços de comunidades urbanas sobre áreas de risco, investindo na chamada “urbanização de favelas” sem considerar o nível de insegurança civil que demanda da instabilidade geológica nesses locais, das cotas de alagamento nas bacias hidrográficas onde se encontram, embora disponham de relatórios, pareceres, pesquisas e estudos técnicos emitidos pelos organismos do próprio estado como as secretarias de governo e as universidades, por exemplo, desaconselhando ou alertando a possibilidade dessas tragédias.
Antes mesmo de eleitos, com o objetivo de o serem, distribuem entre as comunidades tijolos, sacos de cimento, ferragens, esquadrias e afins como apoio à efetivação dos assentamentos urbanos que se desenvolvem nessas áreas. Após eleitos procedem como antes descrito cumprindo o que chamam de “ações sociais do estado”, concedendo as facilidades de serviços urbanos para permanência da comunidade nos locais de alta probabilidade de acidentes climático-geológicos. Uma atitude como a de dar um doce envenenado a uma criança, deixando a Deus a responsabilidade de sua morte…
Foi isso que aconteceu em Niterói, no Rio de Janeiro, em Seropédica, em Angra, enfim. Uma sequência infindável de atitudes irresponsáveis de governantes eminentemente políticos, politiqueiros, populistas, mais preocupados com suas ascensões políticas que com as responsabilidades inerentes aos seus sobre a segurança civil da população. Para eles a chuva é sempre maior do que devia ser, o lixo sob o terreno onde edificam os pobres é de sua própria responsabilidade, a vida das pessoas é responsabilidade exclusiva do Deus todo poderoso. A desordem urbana conseqüente disso tudo, que hoje domina a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, é insolúvel. O prefeito do Rio de Janeiro manda desapropriar um morro e transferir as famílias, coisa pontual e tardia… O prefeito de Niterói chora as obras de urbanização sobre o lixão desativado, determinadas por ele mesmo, a despeito dos pareceres técnicos emitidos pelos departamentos da UFF… E no reservado de suas alcovas, choram a perda de duzentos eleitores!
Arquiteto e Urbanista
Mestrando em Engenharia Urbana Poli-UFRJ/2009
pdtangra12@hotmail.com
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