segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Olha aí, esse é meu guri. É seu também? É nosso?



Quem já foi assaltado, como se tentou fazer ontem, no centro do Rio, como este senhor argentino na foto que O Globo publica hoje, sabe que, na hora, a sensação é de medo e de vontade de reagir a esta agressão. Mas sabe que tem, ali, de manter a cabeça fria e evitar que um problema se transforme numa tragédia. Seria terrível se por algumas notas de dinheiro ou um relógio este homem perdesse a vida ou fosse ferido, não é?



Eu sei que vai ter gente que, de tão estressada e machucada com a situação de insegurança que a gente vive que vai discordar de mim. Paciência. Estou aqui para ser sincero e dizer daquilo que acredito e não para ser “palatável” por todos e garimpar uns votos. Meu pensamento e meu coração me exigem isso.


Queria convidar a todos para um raciocínio, sem hipocrisias. Aquele garoto, talvez com 10 ou 11 anos, foi preso. Honestamente, a chance de ele recuperar-se, mesmo que tivéssemos os melhores estabelecimentos correcionais – e não os temos – não seria das maiores. De abrigo em abrigo, depois de cadeia em cadeia, é bem possível que este menino se torne um criminoso.


Isso justificaria matar esta criança, como fizeram os massacradores da Candelária? Uma sociedade que se pretende civilizada pode instituir a pena de morte, ainda mais para uma criança desta idade? Você se disporia a matar uma criança desta idade?


Desculpem-me ser cru assim, mas se não nos dispomos a isso, temos que jogar o jogo difícil da recuperação, que é um jogo pesado, caro e de, reconheçamos, chances menores.


Este menino não foi parar aí em um dia. Ele fez um longo caminho até chegar a esta situação degradada. Ele está na escola? Provavelmente, não. Já esteve? Provavelmente, sim. Por que saiu? Alguém se importou com isso? Alguém ligou para o que ele fazia e como vivia nas outras 20 horas do dia em que não estava na escola mesquinha que teve? Alguém se preocupou mais com o que uma reprovação no primeiro ou no segundo ano deixou-lhe de recalque ou fez seus pais entenderem que ele “não tinha jeito pra estudar”?


Não é por ser negro ou pobre que este menino não podia ser meu ou seu filho. É assim que reagimos com nossos filhos, nesta idade? Poderíamos falhar, fracassar até, mas eu asseguro que estaríamos tentando, e tentando, e tentando mudar. Porque? Porque os amamos.


Quem amou este menino? Quem lhe deu tudo – mesmo sendo pouco – o que lhe poderia ter sido dado? Quem o acompanhou, quem lhe deu noções, quem lhe deu comida, saúde, orientação, brincadeira, alegria, carinho, disciplina, valores? Quem, um dia, lhe deu um ambiente de amor e não de indiferença? A família? A escola? A sociedade?

Nós, a sociedade, o que vamos lhe dar, agora? Quantos milhares de policiais teremos de pagar porque deixamos ele e milhares de outros guris chegarem aí? E vai adiantar?


Ele está roubando, ou tentando roubar, uma carteira. Tem de ser detido, sim. E nosso modelo de sociedade, roubou o quê dele? Esse modelo também precisa ser detido ou pode seguir fazendo mais mil, dez mil, cem mil destes guris?


A causa da educação pública, a causa de uma escola que acolha, assista, acompanhe, enfim, que ame de verdade as nossas crianças e que -como fazemos com nossos filhos – lhes dê tudo o que pudermos dar não é apenas para salvar este menino e todos como ele.

É para salvar-nos a todos de embrutecer. Salvemo-nos disso, por favor.

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