Reprodução da Folha de São Paulo on line.
O Brasil tem especialistas e tecnologia para prevenção e gestão de enchentes, mas falta vontade política, diz a epidemiologista belga Debarati Guha-Sapir, diretora do Cred (Centro de Pesquisas sobreEpidemiologia de Desastres), referência mundial na área, e professora da Universidade de Louvain, em Bruxelas. Para ela, as chuvas não devem ser culpadas pela tragédia no Rio. "Também tivemos chuvas fortes na Bélgica, mas ninguém morreu."
Folha - A sra. disse recentemente que os desastres causados por chuvas no Brasil poderiam ter sido previstos pelas autoridades. Como isso seria feito?
Debarati Guha-Sapir - Toda catástrofe tem, diríamos, dois lados positivos. Primeiro, tendem a acontecer no mesmo lugar de tempos em tempos -diferentemente dos terremotos, que sempre pegam de surpresa. Zonas de risco de inundação costumam ser bem conhecidas por autoridades e moradores.
Segundo: a engenharia e a tecnologia já têm soluções eficazes para inundações. E muitas têm custos relativamente baixos, como aterros e drenagem. Outras são mais caras, como os açudes. Mas todas são eficientes.
Temos tecnologia suficiente?
O Brasil não é mais um país pobre. A maioria das tecnologias importantes para prevenção e administração de enchentes -da engenharia civil, hidrologia, urbanismo e planejamento e gestão de inundações- não precisa só de conhecimento técnico, mas de recursos.
Isso significa que é preciso ter pessoas especializadas e equipamentos adequados para as ações de prevenção.
A única coisa que falta ao Brasil é vontade política. As autoridades precisam priorizar a gestão de inundações.
O problema não é falta de especialistas ou de tecnologia. Alguns dos melhores profissionais estão no Brasil.
Então, mais pessoas morreram no Brasil do que na Austrália por falta de ações de prevenção do governo?
Sim. Isso ocorreu devido à falta de preparo e prevenção para lidar com as fortes chuvas. O Brasil, ainda que não seja um país pobre, ainda tem muitas diferenças sociais entre a parte mais pobre e a mais rica da sua população.
Quem vive nas zonas de riscos são pobres, muitas vezes analfabetos. Eles não têm uma educação mínima para compreender os riscos nem recursos financeiros para viver em casas melhores.
Na Austrália, toda a população é alfabetizada e o governo tem programas para atender as vítimas, para fazer avisos de riscos via rádio e para ajudar a população a evacuar, se necessário.
A tragédia no Rio afetou também áreas ricas, onde viviam pessoas com mais educação.
Elas provavelmente não devem ter ideia dos riscos, mas, se forem pobres, não há muito que possam fazer para evitar o riscos. Então o governo tem de ajudar.
O desastre no Rio foi causado pela urbanização caótica, por omissão do governo sobre os riscos ou pelas chuvas fortes? Ou pela soma de fatores?
A chuva forte é o último fator a ser mencionado. Tivemos chuvas fortes na Bélgica neste ano e, sim, tivemos inundações. Mas ninguém morreu e, na maioria dos casos, as cheias foram contidas.
O principal problema do Rio certamente é a urbanização caótica e o mal uso dos recursos públicos.
Folha - A sra. disse recentemente que os desastres causados por chuvas no Brasil poderiam ter sido previstos pelas autoridades. Como isso seria feito?
Debarati Guha-Sapir - Toda catástrofe tem, diríamos, dois lados positivos. Primeiro, tendem a acontecer no mesmo lugar de tempos em tempos -diferentemente dos terremotos, que sempre pegam de surpresa. Zonas de risco de inundação costumam ser bem conhecidas por autoridades e moradores.
Segundo: a engenharia e a tecnologia já têm soluções eficazes para inundações. E muitas têm custos relativamente baixos, como aterros e drenagem. Outras são mais caras, como os açudes. Mas todas são eficientes.
Temos tecnologia suficiente?
O Brasil não é mais um país pobre. A maioria das tecnologias importantes para prevenção e administração de enchentes -da engenharia civil, hidrologia, urbanismo e planejamento e gestão de inundações- não precisa só de conhecimento técnico, mas de recursos.
Isso significa que é preciso ter pessoas especializadas e equipamentos adequados para as ações de prevenção.
A única coisa que falta ao Brasil é vontade política. As autoridades precisam priorizar a gestão de inundações.
O problema não é falta de especialistas ou de tecnologia. Alguns dos melhores profissionais estão no Brasil.
Então, mais pessoas morreram no Brasil do que na Austrália por falta de ações de prevenção do governo?
Sim. Isso ocorreu devido à falta de preparo e prevenção para lidar com as fortes chuvas. O Brasil, ainda que não seja um país pobre, ainda tem muitas diferenças sociais entre a parte mais pobre e a mais rica da sua população.
Quem vive nas zonas de riscos são pobres, muitas vezes analfabetos. Eles não têm uma educação mínima para compreender os riscos nem recursos financeiros para viver em casas melhores.
Na Austrália, toda a população é alfabetizada e o governo tem programas para atender as vítimas, para fazer avisos de riscos via rádio e para ajudar a população a evacuar, se necessário.
A tragédia no Rio afetou também áreas ricas, onde viviam pessoas com mais educação.
Elas provavelmente não devem ter ideia dos riscos, mas, se forem pobres, não há muito que possam fazer para evitar o riscos. Então o governo tem de ajudar.
O desastre no Rio foi causado pela urbanização caótica, por omissão do governo sobre os riscos ou pelas chuvas fortes? Ou pela soma de fatores?
A chuva forte é o último fator a ser mencionado. Tivemos chuvas fortes na Bélgica neste ano e, sim, tivemos inundações. Mas ninguém morreu e, na maioria dos casos, as cheias foram contidas.
O principal problema do Rio certamente é a urbanização caótica e o mal uso dos recursos públicos.
pdtangra12@hotmail.com
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