segunda-feira, 19 de julho de 2010

REFLEXÃO."Vera Malagutti: A bala perdida e o Brizolão"

do tijolaço.com
Republico, para conhecimento de todos, o excelente artigo escrito pela socióloga, e professora de criminologia , Dra.Vera Malagutti Batista, uma das pessoas mais capazes de compreender os componentes sociais (e os repressivos) contidos na questão da criminalidade. Um texto imperdível, ainda mais quando ouvimos gente que se pretende “intelectual” defendendo que não se construa escolas próximas a favelas ou, como no absurdo que disse o oficial exonerado após a incursão policial que terminou na tragédia da morte do menino Wesley, dizer que devamos ter escolas “blindadas”.
"A transformação dos territórios da pobreza em áreas de ocupação faz parte de um projeto muito amplo e profundo do que parece. A escalada bélica na luta contra o crime e na guerra contra as drogas é um fim em si mesma, elemento de um cenário geopolítico e de um programa econômico. A indústria do controle do crime constitui o setor mais ativo no capitalismo pós-crack da Bolsa: segurança e sua contrapartida, a criminalização das estratégias de sobrevivência dos pobres sem trabalho.

A idéia de que contra as favelas só a força bruta se ancora em permanências históricas brasileiras de longa duração. A aniquilação das civilizações indígenas, a escravidão e o liberalismo à brasileira (suplício mais disciplina) são marcas vivas em nossos corpos pardos e negros. A ocupação é uma tecnologia de guerra com modelos, equipamentos, táticas e treinamentos vendidos pelos países que a conceberam para domínio dos campos de petróleo, das áreas de produção da biomassa (do que restou das reservas naturais) e de tudo o mais que tenha valor nesse mundo em ruínas.


Ao longo desses anos, após a redemocratização, criou-se uma atmosfera produtora de demanda de medos que impusessem uma necessidade infinita de mais lei e ordem, principalmente contra os crimes dos pobres. Perdemos todos a mordida crítica contra a tradição exterminadora a que atiraram os agentes da segurança pública, a categoria mais sofrida dos trabalhadores brasileiros.


O resultado esta aí: quando as estatísticas oficiais torturam os números para demonstrar que os homicídios diminuíram, é que os mortos pela polícia não contam. Mas, para nós os inquietos, o que conta é o número de mortos, esse moinho de gastar gente que se instalou na cidade ocupada e pacificada para o reino dos grandes negócios esportivos transnacionais."


É coincidência que a bala perdida tenha matado o nosso Wesley no Brizolão? É claro que não, são os sintomas mais tristes e desoladores da derrota de um projeto de escola e de cidade.

pdtangra12@hotmail.com

Nenhum comentário: