Marcelo Remígio e Juliana Castro, O Globo
O Globo - 25/03/2012
RIO - Herdeiros do legado político de Leonel Brizola, os irmãos Juliana, Leonel e Carlos Brizola, netos do ex-governador, querem reconquistar para a família o controle do PDT no ano em que o avô completaria 90 anos. Na busca pelo comando do partido, os irmãos travam uma queda de braço com o presidente nacional da legenda, o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, que mantém a sigla com mãos de ferro e forte influência política. A disputa pelas rédeas do PDT se intensificou nos últimos meses e respingou na indicação do novo ministro do Trabalho. Partidários de Lupi minaram o nome do deputado federal Carlos Brizola Neto (RJ), o Carlito, para o cargo.
Deputada estadual no Rio Grande do Sul, Juliana tem visitado diretórios municipais gaúchos e costura um projeto de reconstrução do PDT. Paralelamente ao trabalho político, escreve um livro sobre o avô. O grupo de Juliana quer estender a reorganização da legenda para os demais estados do Sul e já mira no Sudeste. Os irmãos Brizola têm defendido eleições diretas para as executivas municipais, estaduais e nacional.
Das 27 representações estaduais do PDT, somente oito foram escolhidas por voto direto. O restante é controlado por comissões provisórias formadas por aliados de Lupi.
— O partido passa por uma crise e, para que ela seja superada, é necessário que o Brizolismo e o Trabalhismo sejam resgatados no partido — diz Leonel Brizola Neto, vice-presidente da Câmara Municipal do Rio.
A queda de braço entre os dois grupos é travada nos bastidores do partido, que enfrenta uma crise de identidade, afirmam adversários de Lupi. Juliana, Leonel e Brizola Neto evitam embates públicos com os aliados do ex-ministro, que têm isolado politicamente os irmãos. Nas reuniões internas, ambos os lados não poupam críticas mútuas. O grupo que acompanha os Brizola reclama que Lupi usaria sua influência política conquistada à frente do Ministério do Trabalho e cargos na pasta para conquistar aliados. Já seguidores de Lupi acusam os irmãos de não terem traquejo político e poder de articulação, mesmo usando o nome do avô.
A disputa pelo comando da legenda foi lançada pelos irmãos Brizola durante o congresso nacional do partido, promovido em setembro do ano passado. À época, eles foram vaiados por militantes ligados a Lupi, após Brizola Neto — que despertou para a política aos 16 anos, quando começou a trabalhar como secretário de seu avô — ter o nome sugerido para presidência do partido. Mas a busca pelo controle só foi intensificada após a crise que culminou com a saída de Lupi do Ministério e a indicação de um novo nome.
— Sou casado com minha mulher há 30 anos, todo dia a gente tem uma divergência. Se a gente que não tem divergência na vida a dois, não está vivendo. E na vida política é a mesma coisa. Num partido que tem mais de 1,2 milhão de filiados, um diretório nacional que tem 360 membros, como não vai ter divergência? — indaga Lupi.
Para Miro, PDT tem hoje a cara de Carlos Lupi
O Globo - 25/03/2012
Sem criticar ex-ministro, deputado afirma que partido é uma federação
A disputa interna travada entre Lupi e os irmãos Brizola - Juliana e Leonel são gêmeos e, Carlito, o caçula - é acompanhada por pedetistas históricos. Sem querer apoiar uma das correntes, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) diz que hoje o PDT não mantém a mesma forma de fazer política adotada no período em que Leonel Brizola esteve à frente do partido. Para o parlamentar, a legenda ignora o debate político e desestimula o surgimento de dissidências da atual executiva. De acordo com Miro, somente o voto direto pode levar um grupo divergente a assumir o controle do PDT.
- Na reunião do Diretório Nacional, eu disse que o PDT está a cara do Lupi. Nos estados a prática é igual. Então, em termos de organização, o Lupi continuará tendo o apoio dos estados porque o PDT se organizou como uma federação. Os estados tem autonomia para apoiar quaisquer governadores e partidos, manejar o tempo de TV, ganhar secretarias. Então, é esta federação em que se transformou o PDT, a exemplo da maioria dos partidos. Isso faz com que a legenda seja assim, a cara do Lupi - diz Miro, ressaltando que sua análise da situação atual da legenda é "uma constatação", e não uma "ofensa" ao presidente do PDT.
Falta de articulação atrapalharia irmãos
Ex-deputado, Vivaldo Barbosa é crítico ao avaliar a disputa interna de poder:
- O PDT participa do governo de todos os partidos. Parece aquela definição que o (Gilberto) Kassab (prefeito de São Paulo) deu (para o PSD): nem de direita nem de esquerda. O PDT com o Brizola era definido, com caráter, lutava pela cultura nacional. Essa era a marca do partido. Agora, o PDT não tem nenhum principio e nenhum valor - diz o ex-deputado, que estuda deixar o partido. - Falta uma visão política mais clara, falta articulação, contatos para os netos de Brizola. Eles não são de fazer articulação. Não vão conseguir força suficiente para derrubar o Lupi, não.
Adversário declarado de Carlos Lupi, o deputado estadual Paulo Ramos também não poupa críticas à falta de identidade do PDT:
- O partido não é nem a sombra ideológica do que deveria ser, do que pregava o Brizola. Os irmãos estão unidos e o Lupi tem feito tudo para dividi-los - afirma.